eu me mudei pra Itacaré em agosto de 2023 pra, depois de 6 anos viajando, ter uma casa por mais de 3 meses pela primeira vez e poder me recuperar do meu burnout. eu estava há 4 meses quase sem trabalhar e nesse tempo tive a ideia de um projeto que se chamaria “100 dias de Bahia”. eu me propus a documentar os meus 5 meses morando ali desde o princípio porque eu acreditava que seria possível eu me curar do ritmo de vida insustentável que eu estava, dos meus vícios e fugas emocionais e do momento depressivo que eu passava. haha. mal sabia que ali seria só o começo do buraco que eu iria me enfiar por questões que não são relevantes no momento de compartilhar. o ponto é que, eu fui gravando vídeos do meu dia a dia com a expectativa de registrar a evolução física e mental até o final. mas…o que acabou acontecendo foi o registro do meu processo de término com meu namorado com quem eu estava prestes a (suspiro) assinar papéis que oficializassem nossa união e pudessemos viver em qualquer lugar juntos. sempre que eu visualizei essa cena na minha cabeça eu só queria uma coisa: que fosse pra sempre. eu tive a sorte de conseguir sair de mim por um instante e me fazer a seguinte pergunta: “a forma que eu estou vivendo agora, eu estaria em paz de viver pelos próximos 5, 10, 15 anos?” porque eu só posso lidar com a realidade e não com a possibilidade. e quando eu observei esse cenário em terceira pessoa ficou muito claro que era hora de me organizar para partir. eu estava num período crítico de exaustão mental, sobrepeso, fraqueza, uso de substâncias, insônia…encontrei uma força em mim que eu não sabia que existia. eu aprendi a me carregar nas costas mesmo que eu estivesse fraca e eu fosse pesada. e eu era, os dois. eu precisei me olhar no espelho e confrontar meu desejo. “você não pode ter tudo, luisa.” se eu escolhesse a relação…pode ser que 2 anos depois eu estivesse nas mesmas condições e isso era inimaginável para mim. mas era o retrato do momento. me escolher, tendo a opção de “continuar tentando” porque…é O amor da sua vida, não é? me escolher…foi uma decisão audaciosa que eu sinceramente nunca tinha experienciado - assim - antes. e eu não fui parada. agora eu preciso honrar minha decisão e lidar com as consequências que vêm com velar uma pessoa em vida. porque ela simplesmente não faz mais parte da sua. é só você com você, e a estrada, de novo. é muito difícil deixar um lugar que a gente sabe que tem amor pra gente. é ainda mais difícil sustentar a decisão de ter deixado esse lugar quando a realidade decanta e você não a tem mais lá. que eu me reinventei é um eufemismo. eu estava lá. eu e eu. quase 1 ano em celibato. quase 1 ano sem beijar ninguém. 28 meses de um trabalho intenso de me investigar, avaliar, julgar, lamentar, recompor, recomeçar, me levantar e, enfim, mudar. eu nunca me senti tão satisfeita com minhas decisões como me sinto hoje. tenho aprendido, com muita calma e paciência, a me obedecer. e recentemente entendi os frutos que um colhe ao fazê-lo. eu sei que tem chão infinito pela frente, mas é um chão que eu nem sabia que existia ou que eu seria capaz de caminhar. estou de volta a Itacaré porque me sinto pronta pra revisitar esse lugar que é tão especial pra mim, mas que, por um tempo, eu ressenti. aqui foi palco de muita dor que vivi. mas essa dor já não dói mais. é um capítulo triste mas essencial no quebra-cabeças da minha jornada. assisto esses vídeos e eu sei como foi difícil ser ela mas…não me identifico. está resolvido. por isso, voltei. pra viver outro roteiro com outros personagens nesses horizontes cênicos que só a Bahia tem. me conhecer - sozinha - sem centralizar ou priorizar ninguém que não eu, primeiro, tem me aproximado e me libertado de mim - ao mesmo tempo. sabe o que? é só mais um começo. - @luisamoraleida