Quando se fala em quem realmente comanda o Partido dos Trabalhadores, muitos pensam imediatamente em Lula. É natural: ele é a figura pública, o líder carismático, o homem que se tornou presidente e se consolidou como símbolo da esquerda brasileira. Mas o bastidor da política, onde se decidem rumos, estratégias e articulações, nunca é controlado apenas pela figura exposta ao povo. É nesse subterrâneo que emerge o nome de José Dirceu, o homem que, por décadas, operou como cérebro do PT. Dirceu não é apenas um quadro partidário: é, talvez, o maior estrategista da esquerda brasileira desde a redemocratização. Diferente de Lula, que sempre atuou na dimensão simbólica, Dirceu foi o arquiteto. Ele construiu pontes, costurou alianças, manipulou engrenagens. Foi ele quem transformou o PT de um partido de oposição ideológica, restrito a sindicatos e movimentos sociais, em uma máquina pragmática de poder capaz de governar. Na década de 1990, quando Lula acumulava derrotas eleitorais, Dirceu percebeu que era preciso flexibilizar o discurso, aproximar-se do centro e conquistar setores do empresariado. Essa guinada não partiu de Lula sozinho; foi Dirceu quem calculou os riscos, elaborou as estratégias e conduziu o partido ao patamar de governabilidade. Sem ele, o PT talvez nunca tivesse chegado ao Planalto. Mesmo depois de condenado no escândalo do Mensalão, em 2005, Dirceu não desapareceu. Pelo contrário: aprendeu a comandar nas sombras. Se Lula é a face pública, Dirceu é o arquiteto oculto, com trânsito em empresários, políticos e até em setores do Judiciário. Sua influência se faz sentir em nomeações, em estratégias de comunicação e, sobretudo, na lógica de sobrevivência do PT diante das crises. É o operador que pensa a longo prazo, enquanto outros se ocupam do imediato. Hoje, com Lula novamente na presidência, muitos veem apenas o retorno de um velho líder. Mas por trás da cortina, Dirceu continua exercendo sua função. Ele não precisa de cargo oficial: seu poder vem da teia de relações construída ao longo de décadas. Conselheiro de confiança, estrategista que já provou estar disposto a sacrificar a própria reputação em nome do projeto, Dirceu é o que se poderia chamar de “comandante invisível”. O PT, portanto, tem duas almas: a da mobilização popular, encarnada por Lula, e a da engenharia política, representada por Dirceu. Se o primeiro fala ao coração das massas, o segundo dita os rumos do partido e assegura sua permanência no poder. Essa simbiose explica por que o PT resiste mesmo após tantos escândalos: há um líder carismático e há um cérebro calculista. E é justamente isso que faz de José Dirceu uma figura central — e, para muitos, assustadora. Porque ele não precisa aparecer nos palanques para influenciar. Seu papel não é discursar, mas mover peças. E no xadrez político, quem move as peças, mesmo fora do tabuleiro, muitas vezes é quem realmente comanda o jogo. #esquerda #direita #conservadorismo #operacaolavajato #brasil - @lucas.josesp