@anadebritooficial: Temos um talento perigoso para desenhar o futuro. Em nossa mente, a vida se torna um roteiro previsível, onde as pessoas agem como personagens que criamos e as cenas se desenrolam exatamente como imaginamos. A gente se apaixona por essa versão da história, uma ficção confortável onde tudo está sob nosso controle. Entregamos nosso coração a um “como deveria ser”. E então a vida, com sua honestidade brutal, acontece. O roteiro é rasgado. A pessoa não age, a situação não se resolve, o caminho que parecia tão claro se revela um labirinto. O peso da nossa própria expectativa nos esmaga. É um tipo de luto silencioso, o luto por uma realidade que só existiu dentro de nós. Mas a magia acontece no vazio que a decepção deixa. É quando, exaustos de esperar pelo que planejamos, abrimos espaço para o que simplesmente é. É quando paramos de procurar a resposta no lugar óbvio e a encontramos em um sussurro, em um gesto anônimo, em uma porta que se abre onde antes só havia parede. A alegria que não veio da fonte esperada nos encontra em um riacho que não conhecíamos. O amor que não foi declarado da forma sonhada nos abraça com o calor de uma amizade inesperada. A vida tem uma sabedoria que zomba dos nossos planos. Ela sabe o tempo certo, a pessoa certa, o lugar certo. E o tempo dela nunca é o nosso. Talvez o segredo seja mesmo esse: desistir de ser o autor e se tornar o leitor da própria vida. Criar unicórnios, sim. Criar arte, criar laços, criar a si mesmo. Mas deixar que a história se conte, no ritmo dela. Porque as melhores surpresas não estão no roteiro que escrevemos, mas nas páginas que a vida vira quando a gente finalmente para de tentar controlar a narrativa.

Ana Brito

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Thursday 16 October 2025 01:34:41 GMT